quinta-feira, 23 de julho de 2009

Perdoar É Desfazer A Ilusão Da Vida Perfeita


Perdoar É Desfazer A Ilusão Da Vida Perfeita

Não se trata de esquecer a maldade alheia ou minimizar o próprio sofrimento. Para ser capaz de um perdão verdadeiro e sadio basta entender que ele traz muito mais benefícios do que o rancor. Se guardar mágoas e alimentar sentimentos de vingança permitem ilusões como a de que somos perfeitos, perdoar leva à libertação.

Todos fomos machucados na vida. Todos fomos rejeitados por um amante, traídos por um amigo, passados para trás numa promoção. Apesar de aprendermos que "perdoar é esquecer" ("o que passou, passou"), a maioria de nós acredita que as pessoas que nos feriram devem pagar pela dor que nos causaram; afinal, elas merecem ser castigadas, mesmo que inconscientemente ("nada como um dia atrás do outro" ou "um dia a pessoa vai ver o que perdeu").

Na verdade, temos muito o que aprender com essas experiências. Em primeiro lugar,perdoar não é retaliar, se vingar ou fazer o outro sofrer tanto quanto nos fez sofrer. Mas, por outro lado, perdoar não é esquecer, deixar para trás quilômetros de mágoa, toneladas de ressentimentos ou ainda fechar os olhos e deixar os "bandidos" se darem bem com as trapaças que cometeram.

Quando perdoamos as pessoas que nos machucaram, não estamos dizendo que o que foi feito contra nós não teve importância ("não foi nada") ou não deixou marcas profundas (aquelas a ferro e fogo). Essas perdas foram terríveis e fizeram grande diferença em nossa vida, mas nos ensinaram muitas coisas: tanto a não nos tornarmos vítimas novamente, como não fazermos o mesmo para terceiros.

De fato, algumas pessoas perdoam, outras não, outras estão tentando. Porém, fingir que perdoamos, ranger os dentes, engolir em seco, não é perdoar. Os terapeutas americanos Sidnei e Suzanne Simon, em seu livro Forgiveness, explicam o que significa perdoar e não perdoar. Começam dizendo que não perdoar tem certas vantagens porque nos dá algumas ilusões.

A primeira, e mais comum, é a ilusão de que, se aquele problema não tivesse acontecido, nossa vida seria perfeita. Só bastaria que as coisas tivessem sido diferentes e não tivéssemos sido machucados naquela época e pela pessoa que nos machucou; agora, estaríamos "numa boa". Mas, como aquilo aconteceu, temos a explicação ideal, a desculpa perfeita para estarmos e ficarmos na pior ( a responsabilidade da nossa infelicidade é sempre do "outro").

Em segundo lugar, não perdoar nos dá ilusão de sermos perfeitos. Os maus, os bandidos, são os que nos machucaram, e se nós os perdoarmos nunca mais poderemos dividir o mundo ao meio, todos os mocinhos de um lado e todos os bandidos de outro. Vamos ter de aceitar que as pessoas são "híbridas", potencialmente boas e más. Tanto os outros quanto nós mesmos.

Não perdoar também nos dá a ilusão de força, de poder ("agora eu controlo"). Não perdoar ajuda a compensar a sensação de falta de poder que nós sentimos quando fomos machucados. De fato, se trancarmos na prisão de nossa mente essas pessoas que nos machucaram, vamos nos sentir onipotentes ("agora é minha vez") pela força do nosso ódio silencioso.

E, por último, não perdoar nos dá a ilusão de que não seremos machucados outra vez. Mantendo a dor viva, os olhos bem abertos para qualquer perigo em potencial, reduzimos o risco de voltamos a sofrer rejeição, traição ou qualquer outra forma de ferimento.

Mas será que os benefícios de não perdoar valem o preço que pagamos por armazenar essas mágoas, remoer esses sentimentos e nos agarrarmos com unhas e dentes à dor do passado? Será que vale a pena continuarmos alimentando a raiva, revidando com palavras ou com silêncio e assim nunca sentirmos o verdadeiro prazer de viver?

O perdão se torna uma possibilidade quando a dor do passado para de reger nossas vidas; quando não precisarmos mais do ódio e do ressentimento como desculpas para obter menos da vida do que queremos ou merecemos. Perdoar é chegar à conclusão de que já odiamos bastante e não queremos odiar mais; portanto, perdoar é usar a energia da vida, não para reprimir esses sentimentos, mas para quebrar o ciclo da dor se voltando para o futuro e não machucando outras pessoas como fomos machucados.

Há quem diga que perdoar é escolher entre se vingar e se aproximar, entre ser vítima ou sobrevivente. Na realidade, perdoar é um processo que vem de dentro. É uma libertação. Uma aceitação. Perdoar é aceitar que as coisas ruins podem e de fato acontecem na vida das pessoas, e que as pessoas mesmo quando amam, se machucam. Perdoar é um sentimento de bem-estar, é reconhecer que existe algo melhor que queremos fazer com a energia da vida e fazê-lo.


Maria Helena Matarazzo

Amor Real


Amor Real

Gostar da própria companhia é o primeiro passo para construir relações saudáveis

As pessoas vivem fazendo comparações entre elas mesmas e os outros. Comparam também as pessoas entre si. O tempo todo ficam imaginando que, se algo fosse diferente no parceiro, ele seria melhor. Quando você entra no jogo da comparação, sempre, há alguém que sai perdendo. E, geralmente, quem sai perdendo é você mesmo. Ao se comparar, você fica impedido de ver quanto você é o único e especial.

Muitas vezes, as pessoas se sentem agredidas pelos atos negativos do seu companheiro. As características básicas das pessoas que procuramos coincidem, ou se opõem, na maioria das vezes, às de alguma pessoa especial e importante da nossa infância.

Quando iniciamos uma relação geralmente, vemos o outro como uma pessoa diferente dos parceiros anteriores e muito especial. Porém, à medida que os problemas vão surgindo, começam as comparações com o último relacionamento e, depois de algum tempo, reafirma-se a crença negativa de que amar não dá certo. Dessa maneira, é muito fácil, por exemplo, o casamento entornar em pouco mais de dois anos.

O grande desafio é, justamente, nos desvencilhar da imagem projetada que fazemos de nós mesmos e de quem está ao nosso lado, nos permitindo aceitar as maravilhosas qualidades do ser humano e os defeitos também. Quando, num relacionamento, não estamos amando o outro, mas, a imagem que construímos e buscamos encontrar, e essa imagem cai, permitindo-nos vê-lo exatamente como é, há um desinteresse, um desencanto. Enquanto vivermos sob o domínio da neurose, com sistemas de comparações, jamais amaremos alguém com a intensidade de que idealizamos. Amamos nos sonhos e ficamos sozinhos quando acordados.

Há uma frase de que gosto muito diz: "o casamento dá certo para quem não precisa de casamento". Normalmente, a compulsão de casar e de viver junto nascem de uma dependência. As pessoas esperam um complemento. Essa não é a função de um relacionamento, o outro não vai preencher uma lacuna, mas sim, ajudar a desenvolver o que elas não têm. Infelizmente, a maior parte das pessoas odeia sua própria companhia e vê no outro uma forma de "salvação".

O único jeito de amar é buscando a sinceridade. Infelizmente, com o passar dos anos o amor tem sido muito mais estratégico do que espontâneo. Nas revistas femininas via-se muito esse tipo de atitude: "se ele fizer isso, faça aquilo", o que foi minando a espontaneidade do amor. Nós temos que redescobrir a forma de amar, a naturalidade do relacionamento amoroso. As pessoas precisam ter interesse genuíno no outro.Todas as maneiras de amar devem ser naturais. Quem fica estudando demais o outro, "mata" a possibilidade de amar alguém. O mundo é feito de absurdos e encontros, os absurdos fazem parte, porém, devemos entender que é possível ser feliz, acreditando dia-a-dia na naturalidade dos sentimentos.

Devemos perceber que a única maneira de amar o outro é nos amando. A medida em que você vai desenvolvendo a paz, mais você vai gostando de ficar com você e seleciona melhor seu possível companheiro. Se a pessoa tem baixa auto-estima, usará o outro para "tapar o buraco" de suas carências, no entanto, ninguém resolve a carência de ninguém.

Conviver e saber aceitar a idéia de que qualquer relacionamento pode acabar é a chave para o amor saudável e construtivo. Tentar dominar o parceiro com medo da perda, só faz com que ele se afaste ainda mais. Esse é outro grande desafio da arte de amar: lidar com a possibilidade da perda, sem dominar o outro.

Roberto Shinyashiki é escritor e conferencista

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Grandes Expectativas


Grandes Expectativas

Administrar nossas esperanças e perspectivas diante da vida pode ser uma boa forma de lidar com as frustracões que invariavelmente vão surgir em nosso caminho.

Existe uma lição universal: nem tudo na vida acontece da maneira como queremos ou desejamos. Alguns aprendem isso no dia a dia, vendo que o trânsito não vai andar só porque se está com pressa, que aquele filme nem sempre vai ser bom porque se apostava que ele fosse, que as pessoas de quem gostamos vão nos magoar de vez em quando, mesmo que quiséssemos evitar isso.

Já outros têm que passar por situações mais delicadas para constatar a mesma verdade: ver um relacionamento acabar, perder alguém querido, ser demitido depois de anos de dedicação à empresa. Mas ninguém, em todos esses casos, discorda de como é difícil encontrar obstáculos no caminho da realização de um desejo. Mas, se a gente sabe disso de cor e salteado, por que é que ainda sofremos tanto quando temos uma vontade frustrada?

A resposta está no fato de que tendemos a idealizar demais as coisas, criar grandes expectativas sobre tudo. É normal – e até imprescindível – nos rodearmos de expectativas. O problema é que, na maior parte das vezes, essas expectativas são tão elevadas que o confronto com a realidade é uma desilusão. E acabamos sofrendo com isso. No entanto dá, sim, para tolerar melhor a frustração que surge desse processo. É sobre isso que vamos falar a seguir.

Mas espera lá: antes que você crie esperanças demais sobre essa reportagem, vale deixar claro que nosso objetivo não é dar respostas prontas. Até porque cada um lida com as suas decepções de maneiras diferentes. Queremos mostrar que dá para colocar as frustrações para trabalhar a nosso favor no trabalho, na vida pessoal, nos relacionamentos e até nas relações familiares.

Tudo para você chegar ao fim do texto refletindo melhor sobre o que fazer quando algo contrariar suas expectativas. Sem grandes decepções.


Na família

É na infância que lidamos pela primeira vez com nossas frustrações: ter que largar a chupeta, não ganhar aquele brinquedo que pedimos, perder a atenção irrestrita com o nascimento do irmão. Nessa fase aparece em nosso caminho uma palavra chata que vai nos perseguir para sempre: “não!” E é justamente a relação com ela que vai definir nosso controle emocional diante das negativas da vida. “As pessoas que ouviram pouco ‘não’ na infância têm muito mais dificuldade de aceitar uma recusa quando se desenvolvem e se tornam adultas”, afirma a filósofa e educadora Tânia Zagury.

Muitos pais evitam dizer “não” como forma de resguardar o filho de se frustrar. Como se fosse possível impedir que a criança se sinta desiludida vez ou outra. O grande problema é que, se uma pessoa não aprende desde cedo a conviver com a decepção em coisas cotidianas, vai ter sérias dificuldades para lidar com o fim de um relacionamento ou não ser aceito em um trabalho.

Na mesma medida que é importante ensinar os filhos a conquistarem o que querem, é imprescindível também mostrar que nem tudo que se quer pode ser conquistado. Nesse sentido, a frustração coloca nossos pés no chão, mostrando que a realidade dos fatos, na maioria das vezes, está muito longe daquela que idealizamos. “A frustração é pintada como algo ruim, que se deve evitar. Ao passo que, se bem trabalhada, ela pode ser bastante positiva para o crescimento pessoal, para o amadurecimento psíquico e o aprimoramento das relações de um indivíduo”, diz Tânia.

Desde pequena MR teve que conviver com a decepção de não conhecer o pai. Quando a mãe dela ainda estava grávida, eles brigaram e ele nunca mais apareceu. Aos 12 anos, ela resolveu que queria conhecê-lo, tentar resgatar uma relação mesmo que tardia. Com a ajuda de uma tia, ela conseguiu contatá-lo e marcaram um encontro. Mas de novo teve que enfrentar a frustração. O pai tinha outra família e não estava disposto a assumi-la para a esposa e os novos filhos. A rejeição foi um balde de água fria na expectativa de Melissa. “Quando o procurei, achei que teria um pai de verdade, que me ligasse, que pudesse sair comigo para conversar, que se preocupasse. Não alguém que quisesse uma relação assim, escondida”, diz.

Hoje, aos 25 anos, MR garante que superou bem a desilusão justamente por não ter idealizado tanto o pai. “Não podia esperar muito de alguém que nunca se esforçou para me conhecer.” É comum as crianças verem seus pais e mães como deuses, infalíveis e perfeitos. Mas, à medida que crescem, percebem que essa imagem não é real, que eles têm defeitos, limitações – e se frustram. Nas relações familiares, as decepções estão principalmente ligadas a padrões que criamos. O pai que quer que o filho seja algo que ele não é, o filho que espera que a mãe seja mais carinhosa. “O segredo é aceitar que nossos familiares são pessoas com visões diferentes das nossas idealizações”, aconselha o terapeuta familiar americano David Niven. E ele conclui: “Não estrague sua vida familiar estabelecendo padrões que você criou para ela”.


No trabalho

Depois de 24 anos trabalhando em uma multinacional, MCS resolveu deixar para trás a posição de gerente de qualidade e uma oferta de promoção para investir uma nova empreitada: abrir sua própria empresa. Apesar de ter chegado a um patamar que nove entre dez executivos almejam, ela se sentia estacionada na função. “Minha maior frustração era perceber que poderia ficar acomodada ou me tornar uma especialista que só serviria para um tipo de atividade para o resto da minha carreira”, diz ela.

Maria Cristina nadou contra a maré das expectativas profissionais da maioria das pessoas. Afinal, convencionou-se acreditar que o padrão para ser bem-sucedido está justamente em ter uma boa posição em uma grande empresa, com ótimos benefícios e, claro, um excelente salário.

Os sociólogos estudam algo que chamam de frustração social: uma decepção que não está ligada a uma situação objetiva, mas a uma percepção coletiva que se tem dela. Existem padrões sociais para tudo, inclusive para nossas carreiras. Muitas pessoas levam esses padrões a sério demais, e tendem a se sentir desiludidas – fracassadas até – se não os alcançam. “O padrão de cada um é determinado individualmente, cada pessoa tem um desejo, um objetivo diferente para sua vida”, afirma Emerson Ciociorowski, coach e autor do livro Executivo – O Super-homem Solitário.

A meta de Maria Cristina era compartilhar seus conhecimentos com outras pessoas, outras empresas. Hoje ela está muito mais satisfeita por ter batalhado pelo conceito que ela tinha de realização. “Agora viajo muito, algumas vezes tenho saudades de 30 dias de férias, mas sinto-me renovada, muito valorizada, útil e reconhecida”, afirma

Não é todo mundo que se sente assim. A principal frustração que assola os escritórios e empresas mundo afora está ligada ao reconhecimento. Ou, melhor dizendo, à ausência dele. Isso acontece, segundo Ciociorowski, por conta da falta de objetividade do que se espera de um funcionário. Como não sabe o que exatamente a empresa quer dele, ele acaba se esforçando demais e faz uma série de coisas que, de repente, não têm o menor valor. E isso gera uma decepção muito grande.

O primeiro passo para evitar essa sensação é saber o que a empresa almeja de você. Vale um papo franco com seu chefe para entender quais as suas reais atribuições. Se você quer ser promovido, mas isso não acontece, questione: que atributos são exigidos para o cargo? Será que tenho todas as habilidades e talentos necessários? “Temos que assumir a responsabilidade sobre nosso próprio desenvolvimento. Não adianta ficar desmotivado, culpando o outro por suas frustrações”, afirma o consultor.

A melhor maneira de evitar desilusões é planejar com realismo suas metas. O importante é procurar trabalhar em empresas que tenham os mesmos valores que os seus – ou até ser autônomo ou abrir seu próprio negócio se estiver difícil encontrar alguma empresa que se enquadre no que você acredita. Nossos valores são a base de todas as nossas escolhas. Ir contra eles é certeza de frustração.



Nos relacionamentos

Não há paixão sem idealização. O escritor francês Stendhal já sabia disso. No verão de 1818, ao fazer um passeio pelas minas de sal de Hallein, na Áustria, ele ficou encantado com o que viu. Os mineiros costumavam recolher galhos secos e sem folhas a armazená-los em locais de trabalho abandonados. Depois de um tempo, pelo efeito das águas saturadas de sal, esses galhos, após secarem, iam se cobrindo de cristais salinos, que lhes davam um efeito belíssimo. Os pedaços ficavam tão recobertos de sal que pareciam diamantes. Era quase impossível reconhecer que se tratava de galhos.

Stendhal percebeu ali uma metáfora para o amor romântico: no momento em que começamos a nos interessar por uma pessoa, não a vemos mais como ela realmente é, mas como nos agrada vê-la. A percepção real é tomada por idealizações que a transformam em poesia aos nossos olhos. “Dessa forma, sempre exageramos as qualidades da nossa paixão e acabamos subestimando as falhas e as características negativas que ela possa ter”, diz o psicólogo Thiago de Almeida, especialista em relacionamentos amorosos.

Esse poço de virtudes do nosso bem-amado vai se esvaindo conforme o conhecemos melhor. E, exatamente por termos pintado a pessoa como ideal demais, quando a descobrimos real ficamos decepcionados. O campo dos relacionamentos é o que mais carrega nos traços de uma idealização excessiva, por isso as frustrações amorosas são as mais sentidas. O amor é a coisa mais triste quando se desfaz (como dizia Vinícius) porque ele é idealizado como perfeito demais para se desfazer. Nossa primeira noção de amor vem da nossa mãe, do amor absoluto que não tem fim. “E alguns continuam a exigir o incondicional amor materno, fantasiado e disfarçado em relacionamentos amorosos adultos”, escreve a psicoterapeuta Judith Viorst no livro Perdas Necessárias. Na vida real, os relacionamentos acabam, se desfazem – aposto que todo mundo tem aí algo para contar sobre o fim de uma paixão.

Porém, o lado bom dessa história toda é que, se superada a idealização, o contentamento romântico tende a amadurecer em uma união profunda. O que era pura “cristalização” dá lugar a um relacionamento real. Para que ele sobreviva às expectativas fantasiosas, é preciso aceitar que os galhos não são cristais de sal. Deve-se gostar dos galhos justamente porque eles são galhos – independentemente da forma como estejam recobertos.

A melhor maneira de evitar desilusões é planejar com realismo suas metas.

Passada essa fase inicial, a próxima também tende a ser complicada: fazer o relacionamento dar certo a despeito das perspectivas que criamos com relação ao parceiro. Não existe segredo para isso, mas os especialistas aconselham que a honestidade pode ser uma boa saída para evitar frustrações. Ponha as cartas na mesa: deixe claro o que espera da relação e o que está disposto a fazer para ela dar certo – e em que não consegue ceder. Dessa forma, as expectativas tendem a ser mais realistas e não caímos na tentação de querer presumir o que o outro pensa ou deseja. Nem querer que o outro adivinhe o que esperamos dele.


Na vida pessoal

O professor de Psicologia da Universidade de Harvard Daniel Gilbert tem uma teoria bastante interessante sobre por que tendemos a deixar escapar tanta expectativa pelas frestas dos nossos desejos. Segundo ele, tentamos o tempo todo prever os acontecimentos da vida. Desde o momento que abrimos os olhos de manhã conjecturamos como será nosso dia no trabalho, o trânsito, o encontro à noite. E, de acordo com Gilbert, isso traz um ganho para a sensação de felicidade.

Antecipar nossos prazeres é uma forma de prolongá-los. Começar a pensar naquela festa uma semana antes nos permite “experimentá- la” por sete dias, em vez de curti-la só no sábado. Prever a viagem de férias é uma forma de se entregar ao merecido período de recesso antes mesmo de bater o ponto e pegar o avião (além de ser um estímulo a mais para as horas de trabalho, claro).

A ressaca desse processo, porém, é que não somos muito bons em prever nada realisticamente. Assim, quando começamos a pensar na festa uma semana antes, vamos criando uma expectativa grande sobre ela, achando que vai ser um momento de alegria genuína. No entanto, quando a festa chega, ela pode nem ser tão legal assim – e aí o sentimento de frustração vem à tona.

“Os acontecimentos futuros que nossa mente antecipa como grandiosos são frequentemente uma grande decepção”, escreve Gilbert no livro O que nos Faz Felizes. E isso vale, óbvio, não só para festas, mas também para os relacionamentos, empregos, objetivos de vida. “Como não conseguimos prever o quão felizes nos sentiremos com algum acontecimento futuro, criamos uma série de fantasias sobre nossa concepção de felicidade.” E elas, na grande maioria das vezes, não se concretizam. Aí, haja decepção!

Mas, além de inevitável, criar expectativas é indispensável para nos motivar a viver. Mesmo que muitas vezes quebremos a cara com as ilusões que criamos, sem elas seria difícil levantar da cama de manhã. Se você não imagina que seu dia possa ser bacana, dificilmente vai querer enfrentá-lo. Ou se já esperar que a festa vai ser ruim, não vai encontrar uma razão sequer para se motivar a ir. Sem expectativas, nos tornamos apáticos, sem vontade. Exatamente o mesmo sentimento que acomete os que sofrem de um mal como a depressão, por exemplo, quando tudo parece desinteressante e desanimador.

Esse é o resultado, também, de decepções que enfrentamos ao longo do nosso caminho. Algumas parecem ser tão doídas que nos deixam sem qualquer fio de esperança. Principalmente quando nos decepcionamos com nós mesmos. Porque daí, além de enfrentar a desilusão, temos que encarar também a culpa. “Por que fui apostar tanto nisso?” “Eu sou mesmo um idiota de ter acreditado naquilo.”

A saída, nesses momentos, é tentar desanuviar a mente e perceber a constatação humilde e realista dos fatos. Sem exageros, sem estardalhaços. Assim, as dimensões de uma decepção como essa se reduzem às de um fato totalmente possível a pessoas normais como eu e você, que não temos obrigação (nem possibilidade) de ser perfeitas. Então, dê-se um desconto. Criar expectativas não é uma escolha, mas um caminho que temos que seguir. O melhor a fazer é aproveitar o trajeto da forma mais tranquila e plena. Assim, a chegada tende a ser sempre compensadora.

Rafael Tonon


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nada De Pressa. Aprenda A Se Conhecer Para Conhecer Alguém


Nada De Pressa.
Aprenda A Se Conhecer
Para Conhecer Alguém

Muitos relacionamentos começam com paixão e idealização. Idealizar é enxergar no outro o que você deseja e não as reais qualidades que a pessoa apresenta naquele momento. É querer que o outro responda as expectativas criadas pela sua própria fantasia. De certa maneira, é querer que a outra pessoa realize suas vontades e desejos pré-estabelecidos. Mas, quando saber se isso está dentro do que é considerado normal?

Com o passar do tempo essa paixão muitas vezes passa, pois na verdade não estava ligada a dados reais e concretos, mas a ilusão que é originária, possivelmente, de todos os filmes e histórias românticas vistas e escutadas durante muito tempo (normalmente, já introduzida na infância e reforçada ao longo dos anos).

Mas a vida não é um filme, um livro de romance ou algo em que o acaso é o único dono do destino, sem possibilidades de atuação. Nós podemos começar a fazer novas escolhas mais satisfatórias e adequadas para nossa felicidade e também da pessoa ao nosso lado.

Observe que para tudo na vida, de modo geral, as pessoas dedicam muito tempo para se aperfeiçoarem: estudando, treinando e vivenciando, por exemplo, o trabalho, os esportes, algum novo curso etc., mas no assunto relacionamento tudo parece diferente. Muitos se deixam levar e ficam a mercê do destino e do acaso. Frases como: o que tiver que ser será , quando a gente menos espera a pessoa certa aparece , etc... Todos já ouviram várias vezes. E se esquecem que devem preparar e cuidar dos pensamentos e da maneira com que escolhem quem estará ao seu lado.

Deixar de enxergar o outro como ele realmente é, faz com que as pessoas deixem de viver novas experiências para se entregar a padrões criados em sua mente. Portanto, fecha-se os olhos para uma realidade que mais dia ou menos dia aparecerá. Isso se torna um grande problema, pois a ilusão não perdura para sempre e, portanto, após a descoberta, vem a decepção. Sentimento de fracasso, desgosto e desilusão são muito negativos e poderiam, em muitos casos, serem evitados se houvesse uma preocupação com atos e escolhas.

Quem disse que o príncipe encantado existe? Alguém já o viu? E quem arrisca dizer que sim? Será essa pessoa um príncipe encantado de verdade ou uma pessoa normal que você enxerga através de lentes e distorções produzidas pela mente? O que é real e o que é imaginário? Sempre ouvimos histórias sobre os príncipes no começo dos relacionamentos, depois de alguns meses eles viram sapos, ou melhor, voltam a ser quem sempre foram, nem príncipes, nem sapos, pois essas percepções só estavam na mente de que os criou. Importante lembrar que homens, também buscam uma mulher perfeita (essa percepção vai variar de pessoa para pessoa, segundo seus critérios de aprendizagem prévia), mas não dão o nome de princesa encantada. Ou seja, todos querem um relacionamento feliz e harmonioso. Cada um dentro de sua realidade e contexto de vida.

Não podemos esperar a perfeição se não somos perfeitos.

Já contava uma história antiga de que um jovem, muito bonito, inteligente, saiu em busca de uma mulher perfeita, por não achar na sua cidade, saiu pelo mundo a procurá-la. Anos depois, voltou a sua cidade natal, sozinho e todos perguntaram se ele havia achado o que procurava em sua viagem. Ele respondeu que sim. E todos curiosos queriam saber onde estava essa mulher, e então ele respondeu: Não estamos juntos. Ela também estava buscando o homem perfeito e foi procurá-lo mundo a fora.

O romance além da atração física deve surgir das afinidades e dos objetivos em comum entre duas pessoas. Isso é muito importante, para que se possa compartilhar a vida em diversos momentos, como fazemos com nossas famílias e amigos. Para isso é preciso aproveitar a oportunidade de conhecer o que há de melhor em cada pessoa, independente do fato de que ela será seu namorado (a), esposo (a) ou não.

Compartilhar a vida é também aceitar o outro como ele é e poder abstrair seu melhor. Criar novas amizades, novos conhecimentos, que podem ser importantes em sua vida de outras maneiras e não somente como um romance. Não se pode ou deve depositar suas carências e dependência no outro. Ser livre e saber viver para si é fundamental.

Algumas pessoas vivem a vida como se existisse um concurso para eleger quem será o seu namorado (a) e com esse comportamento, deixam de aproveitar os momentos e viver o presente, deixam de viver a vida como ela é. O problema surge quando a pessoa escolhida não condiz com o modelo imaginário, então, já não há mais interesse. Será que se relacionar é apenas ter outra pessoa ao lado que supra as carências? Ideal seria aceitar o outro como ele é e tê-lo ao lado por admiração concreta e real. As carências deveriam ser supridas por cada um e não por outra pessoa.


Existem muitas maneiras de se viver a própria vida ao lado de outra pessoa. Viver uma ilusão sem dados reais leva a frustração. A vida é feita de momentos e de sonhos que podem ser concretizados se houver interesse e dedicação. Deve-se aproveitar a vida e vivê-la intensamente. Aceitar as experiências reais, vividas com verdade, assim fica mais fácil encontrar alguém muito especial.

Adriana de Araújo

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Traição - Agora As Mulheres Em Jogo



Traição - Agora As Mulheres Em Jogo

Cresci ouvindo dizer que os homens traem muito mais do que as mulheres e isso parece ser um consenso geral. Sempre fiquei intrigada com essa quase competição, em que a meu ver, no mínimo, não há vencedores. Também sempre me pareceu muito claro a permissividade, e às vezes até estímulo à traição masculina, assim como a grande repressão à traição feminina. Logo a avaliação de quem trai mais, além de totalmente inútil é, por todas essas condições, impossível de ser feita.

É inegável que a mulher traída geralmente é vista como a vítima de algum safado mulherengo. Digna da solidariedade das pessoas, não se vê necessariamente atingida em quesitos pessoais, como respeitabilidade social. Historicamente, houve momentos - e creio que em muitos lugares e cabeças ainda há - em que ser traída é esperado e considerado absolutamente normal.
Isso vem do tempo em que sexo com esposas teria que ser "respeitoso" e, portanto, cheio de restrições. Se esse era o comportamento respeitoso, logo sexo sem restrições com outras mulheres não oferecia nenhuma ameaça. As mulheres ficaram conformadas com esse destino, algumas vezes até tendo nesse costume a vantagem de não ter que fazer muito sexo, assunto cheio de tabus e preconceitos, levando a dimensão prazerosa de sua prática para muito longe.

Independente do gênero, traição provoca dor em homens e mulheres mas não tenho dúvida de que para os homens é mais devastador. Além da "dor de amor", o homem traído é visto, principalmente por outros homens, de uma forma muito humilhante, como se ficasse destituído de sua virilidade, masculinidade e respeitabilidade. O "corno" é motivo de chacota e ridicularização. Fica mais difícil se recuperar e superar a situação com tanta pressão cultural acumulada ao longo do tempo. A mentalidade coletiva está mudando, é fato, mas isso acontece de forma muito lenta e diluída.

A mulher quando trai, muitas vezes não divide a experiência com alguém e costuma ser bastante cuidadosa com as possibilidades de ser descoberta. Quando isso acontece, as conseqüências são sempre graves e dificultam muito o processo de resolução da questão, ficando muitas vezes implícito que ela nada merece e que perdeu toda e qualquer razão que pudesse ter para ter se envolvido com outra pessoa.

A traição feminina clássica é aquela que se caracteriza por um encantamento, apaixonamento da mulher por outra pessoa ou, pelo menos, pela situação de estar se sentindo valorizada e desejada por alguém. Geralmente é um comportamento que vem acompanhado de muitos conflitos, porque o envolvimento afetivo leva a fantasias românticas e, conseqüentemente, a sofrimento.
Mesmo quando não querem de nenhuma forma a separação, tendem a ter uma expectativa de reciprocidade amorosa. Essas mulheres reclamam da falta de atenção de seus maridos/companheiros. Sentem falta de comportamentos românticos e de se sentirem surpreeendidas como nos velhos tempos. Reclamam que até sexualmente se sentem pouco compreendidas e contempladas. A vida virou familiar demais e acabam se sentindo carentes da sedução masculina. É preciso muita maturidade para ultrapassar essa sensação de monotonia dentro da própria relação. A mulher costuma se sentir muito culpada e temerosa das conseqüências. Acaba ficando muito aflita e ansiosa.

Tenho visto de forma assustadoramente crescente, ultimamente, a traição motivada por grau altíssimo de vaidade e dificuldade com o envelhecimento. Em época de tanto culto à jovialidade e associação dessa característica com sensualidade, algumas mulheres têm muita dificuldade em aceitar as transformações físicas pelas quais estão passando e tornam-se vigilantes e atuantes implacáveis das medidas antienvelhecimento. Malham muito, gastam grande parte de seu tempo fazendo tratamentos de beleza e, quando desejadas por homens mais jovens, vêem nisso a confirmação da perpetuação de sua juventude. Essas traições pouco envolvem o romantismo citado anteriormente. Parecem ser um movimento individual, um grande restaurador para o ego, quase um antídoto para a baixa auto-estima.

Ouço com espantosa freqüência mulheres que reclamam de tédio em suas vidas amorosas. Sentem-se com muito pouco espaço e intimidade para falar de sentimentos com seus maridos e suficientemente fragilizadas para a iniciativa de efetuar mudanças práticas em suas vidas. Muitas vezes essas modificações sequer dizem respeito ao casamento, mas sim a outros segmentos de suas vidas.

A verdade é que relações longas requerem cuidado e investimento incessante por parte de todos os envolvidos. A traição pode trazer sopros momentâneos de motivação e sensação de se estar vivo e feliz. Mas, quando não se quer desfazer o casamento, é melhor partir para formas mais eficazes e seguras de enfrentar o problema.

Quando não existe mais amor e desejo, aquele casamento já não faz mais sentido e está sendo mantido quase que exclusivamente pelo medo de rompê-lo. É melhor criar consciência e coragem para viver o fim, e dessa forma ficar livre para caminhar em direção a momentos mais felizes e verdadeiros. Às vezes, por medo de ficarmos sozinhos, nos mantemos indefinidamente vivendo a famosa e terrível solidão a dois.

Todos merecemos outra chance. Caminhar em direção a sentir plenitude e felicidade vale sempre muito a pena. Algumas vezes a nova chance está na reestruturação da própria relação e outras vezes, no final das mesmas.

Eda Fagundes é psicóloga clínica

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Diante De Um Conflito O Primeiro Passo É Identificar Sentimentos


Diante De Um Conflito
O Primeiro Passo É Identificar Sentimentos


"O que estou sentindo?
E por que estou sentindo?
Quando nos tornamos conscientes obtemos mais controle"


... São nossos pensamentos e opiniões que criam nossos sentimentos, e ambos criam nossas atitudes. Mas tememos os sentimentos, fugimos deles, negamos senti-los e com isso, as dificuldades se somam. O fato de ignorarmos o que sentimos não faz com que desapareçam de dentro de nós, pelo contrário, tudo o que é negado se torna mais forte. Quando reprimimos o que sentimos, estamos impedindo que a energia contida se manifeste e nos mantemos no mesmo padrão de comportamento, não permitindo que as mudanças, tão essencial ao crescimento, se efetuem. E com isso, seguimos a vida repetindo padrões. Ao refletir sobre sua vida poderá encontrar padrões de comportamentos e/ou sentimentos que se repetem. Muitas vezes as situações são diferentes, mas o sentimento despertado geralmente já é conhecido. Caso consiga identificar o sentimento que tem tido nas últimas semanas, poderá perceber que é um sentimento que o acompanha há muito tempo.

Para que possamos nos conhecer profundamente, é necessário deixar que todas as emoções que estão dentro de nós se tornem conscientes. Sem fugas, que em geral acontecem de diversas maneiras, seja trabalhando em excesso, consumindo álcool, tendo compulsão por comida, compras, jogos, etc. Estamos constantemente ocupados com tantos afazeres, que sequer nos damos tempo para identificar o que sentimos. Tudo isso faz com que olhemos apenas para fora, e não para dentro de nós. Estamos sempre apagando incêndios e não nos damos tempo para ouvir aquilo que muitas vezes grita dentro de nós. É quando surgem doenças e sintomas, como que para nos fazer ouvir o que negamos. Se você deixasse que sua alma gritasse, o que ela diria? Ouça-a!

Outra maneira de fugir de nosso potencial e capacidade de nos olhar por inteiro é manter relações afetivas destrutivas. Ficamos tão atordoados tentando salvar nossa relação que no meio de tantas brigas, insatisfações, desentendimentos, acusações, nos sentimos sem condição de agir de forma a nos defender. Nossa capacidade em ter consciência de nosso valor parece ficar totalmente comprometida. É neste processo que nos perdemos de nós mesmos, e em vão passamos a procurar no outro a solução que está bem dentro de nós. É quando passamos a supervalorizar o outro na mesma proporção que nos desvalorizamos. O que por si só cria um círculo vicioso. Vemos o outro, ou queremos ver, como responsável por nosso sofrimento e também por nossa felicidade. E deixamos nossa vida nas mãos de alguém que muitas vezes, não consegue cuidar nem da própria vida... quem dirá da nossa. E choramos, nos desesperamos, queremos respostas urgentes, mas sequer nos damos ao trabalho de nos questionar sobre as possíveis causas de nossos sentimentos.

Diante de um conflito, o primeiro passo é identificar sentimentos.

O que fazer diante dos conflitos? Primeiro é preciso identificar seus sentimentos. Parece fácil, mas nem tanto. Pare por uns segundos e pergunte-se: “O que estou sentindo neste momento?” Nem sempre a resposta virá de imediato. Mas insista. Pergunte-se ainda: “o que está causando minha insatisfação?” (ou o que esteja sentindo...) Pergunte-se todos dos dias, ao menos uma vez por dia, qual o sentimento que está sentindo. Com certeza isso o ajudará a se conhecer um pouco mais. E o que fazer com o sentimento que identificou? Procure buscar a origem dele, em qual situação ele começou? Novamente, ouça a resposta. Exercite ouvir-se todos os dias, e assim conhecer um pouco mais de você, sem medos, mas com a convicção que dentro de você está a resposta que tanto busca!

Rosemeire Zago é psicóloga